A História do Exu Tranca Ruas Das Almas — Guardião dos Caminhos
Para honra e glória do divino Ogum,
Em louvor ao Celestial Ogum Sete Lanças,
Em Homenagem ao Mistério Tranca-Ruas das Almas,
Em respeito a todos os mistérios Exu,
Em agradecimentos aos 7 Orixás Naturais da Umbanda,
Esse texto é um resumo do que pude depreender lendo o livro O Guardião dos Caminhos — A História do Senhor Guardião Tranca Ruas, psicografado por Rubens Saraceni, sob tutela de Pai Benedito de Aruanda, guia e mentor espiritual de Rubens.
Essa publicação é também o motivo pelo qual iniciei este blog para falar sobre Umbanda e temas relacionados, para que dentro dos meus conhecimentos, vivências, entendimentos e leituras limitadas, eu possa trazer clareza sobre os temas básicos que envolvem a Umbanda Sagrada Brasileira — USB, nossa religião.
Publicado em 2005, pela Editora Madras, que na verdade publicou toda a biografia de Saraceni e atualmente publica seu pupilo, o sacerdote Alexandre Cumino, O Guardião dos Caminhos, como traz no título, conta a história do Exu de Lei Tranca Ruas Das Almas. Sabemos que existem pelo menos sete falanges de Tranca Ruas, sendo elas:
Tranca Ruas das Almas;
Tranca Ruas de Embaré;
Tranca Ruas das Ruas;
Tranca Ruas das 7 Encruzilhadas;
Tranca Ruas das Porteiras;
Tranca Ruas das 7 Luas;
Tranca Ruas das 7 Giras;
Naturalmente, Tranca Ruas atua pela força de Ogum, portanto, a serviço da Lei, energia que este orixá compreende. Está ligado intimamente a Ogum Sete Lanças, que representa as sete linhas da evolução humana. A falange de Tranca Ruas das Almas milita pela evolução dos desencarnados. Nas palavras do próprio Exu, suas atribuições compreendem: “trancar a evolução dos desqualificados, desequilibrados e desvirtuados espíritos humanos”. Seu campo de atuação é a calunga pequena, o cemitério, de modo que há na falange Tranca Ruas das Almas uma sinergia entre Ogum e o orixá Omolu, ordenador da passagem do plano material para o espiritual. Logo, é correto afirmar que Tranca Ruas das Almas é exu de Ogum e de Omolu. Não estranhem, caso vocês vejam por aí algo nesse sentido.
Adentrando o livro, o Exu Tranca Ruas em seu plano é mais conhecido por Mehi Mahar Selmi Laresh. Ele explica que o termo “mehi” advém de uma língua ancestral, cujo significado é guardião de mistérios, no caso, mistérios da natureza. Seu feminino é Meha. Ao longo do curso da história os Mehis e Mehas têm se adaptado a religiões, povos e crenças exatamente por serem mistérios, ou seja, não compreendidos pela nossa consciência humana, o que facilita essa transição e adaptação. O termo “EXU” só surgiria muitos e muitos anos depois de sua última passagem pela Terra, remonta a 4 milênios, sendo, portanto, relativamente novo, segundo Laresh.
O livro é romanceado por Pai Benedito, porém, em alguns momentos há passagens diretas com falas do mistério Tranca Ruas. Inicialmente este nos revela que o homem não descende do macaco, que a África não foi o primeiro continente habitado e que não existiu uma cor primeira na raça humana, mas sim que o homem branco, amarelo, vermelho e preto surgiram ao mesmo tempo, tendo esses povos vivido isoladamente cada qual em um território diferente sem sequer saber da existência um do outro. Só com o decorrer das eras e as modificações ocorridas neste planeta em razão de catástrofes, cataclismos, outros, é que em algum momento esses povos ‘puros’ se cruzaram dando início a miscigenação tal como conhecemos.
Selmi Laresh dá a entender que como o planeta vem sendo habitado a milhões e milhões de anos é possível que povos e povos possam ter desaparecido sem deixar rastros ou vestígios de suas existências e, que nem mesmo quem estuda civilizações antigas pode compreender tantas povoações na Terra, tendo em vista as constantes mudanças, muitas vezes bruscas, pelas quais passaram os continentes, alguns soterrados, atingidos por cometas ou mesmo por armas de alto poder destrutivo que possam ter existido e também não tivemos conhecimento.
Logo, Mehi Mahar Selmi Laresh viveu numa era antiguíssima. Quando por aqui passou foi em uma época onde o homem conseguia mentalmente subjugar um animal, conseguia com o poder de seu pensamento controlar suas emoções, euforias e tristezas, por exemplo. Grau evolutivo que se perdeu com o tempo junto com tantos conhecimentos e tecnologias que desconhecemos. Há algumas provas dessas perdas como a construção das pirâmides egípcias que ninguém nunca descobriu como foram feitas.
Desde sua encarnação contada neste livro, e com sua volta ao plano astral, passou por 77 religiões, algumas já mortas, outras em lenta agonia e por religiões plenamente ativas e em desenvolvimento como a USB, que só tem 110 anos contados. Para citar algumas: Hinduísmo, Tibetana, Xintoísmo, Xamanismo siberiano, africano e ameríndio, Cristianismo, Islamismo e Umbanda Sagrada.
Quando digo que ele passou pelas religiões significa que em cada uma delas o mistério Mehi Mahar Selmi Laresh representou algum símbolo, alguma entidade espiritual cultuada dentro das religiões citadas. Como isso é possível?, você pode se perguntar. Como disse antes, Selmi Laresh explica que os Mehis e Mehas são mistérios naturais e divinos, só compreendidos pelo criador do Universo.
Quando Tranca Ruas encarnou, muitos outros Mehis e Mehas também entraram no estágio humano da evolução, assim aconteceu, pois, muitas mudanças o plano material sofreria a partir de então, logo sua missão na terra estava diretamente ligada a essas mudanças. Os tempos de paz que a Terra conheceu (e que nós -talvez- nunca conheceremos) estava minguando, Selmi Laresh acompanharia isso tudo em carne.
Os reinos existentes àquela época contavam com Templos Ancestrais (a Ordem dos Templários surgido na Europa como conhecemos teria sido uma corruptela desses templos ancestrais). Mehi Laresh cresceu no Templo Cristalino da Luz Azul, dedicado à Fé, ao Amor e ao Conhecimento. Cada templo possuía leis próprias e as cores os diferenciava.
Ao nascer, Laresh foi entregue aos templários. Dos 3 aos 7 anos começou a ser iniciado em sua missão e já era uma criança intelectualmente dotada. Aos 7 anos passou por um ritual de iniciação para se tornar Mehi humano, estudando em regime fechado até os 13 anos de idade. A partir daí, como era hábito no Templo da Luz Azul, viajou para conhecer todos os outros templos, passando um ano em cada um, só retornando ao seu templo de origem aos 21 anos de idade, pois eram sete os templos, de acordo com as cores do arco-íris sagrado.
Ao retornar, Laresh começa a ter visões e sonhar com uma grande mancha negra repleta de criaturas perdidas e atormentadas, ouvindo alguém lhe chamar e pedir por sua ajuda. O Mago guardião do templo o explica que aquela será sua missão um dia e que para aquela mancha são enviadas as pessoas “caídas”. A mancha que Laresh via em sonhos representava os horrores humanos e todos que foram vistos dentro dela reencarnariam sucessivas vezes até encontrar o equilíbrio necessário.
Se já disse antes que Tranca Ruas das Almas trilha pela evolução dos espíritos humanos, aqui fica mais nítido seu campo de atuação.
Selmi Laribor, mestre de Selmi Laresh, contou-lhe que há alguns anos tem havido revoltas e desentendimentos em muitos reinos e templos, às vezes levando a guerras e destruição e que o Templo da Luz Cristalina trabalhava para controlar isso e assim tentar impedir que esses fatos virassem realidade ali também naquele reino calmo.
Temeroso, porém mais tranquilo, Laresh segue com sua rotina de rituais e estudos e sai em viagem para conhecer outros povos, porém em um deles se apaixona por uma mulher de pele vermelha. Retorna a seu reino e revela sua paixão a Laribor, que o repreende. Acontece que, segundo as leis do Templo Cristalino, as pessoas só poderiam casar entre si. Como Laresh possuía pele branca jamais poderia casar com alguém que tivesse outra cor de pele.
Aqui posso abrir parêntesis e colocar que o mundo em que vivemos hoje, onde o rico não busca se misturar aos pobres para assim concentrar sua riqueza apenas entre os seus, onde muitos possuem preconceitos contra índios e negros, segregando-os social, econômica, política e educacionalmente, é nada mais que uma metáfora do que foram os tempos em que Selmi Laresh viveu.
Tem início uma discussão entre mestre e iniciado. Laresh decide abandonar seus anos de estudos e dedicação para viver a única coisa que lhe trouxe felicidade de verdade, o amor, ainda que o amor de uma mulher de um reino diferente do seu. De acordo com o livro, Laresh poderia casar-se com sua amada no reino em que ela vivia, pois, aquele templo já estava fragilizado por motins internos, diferente do Templo Cristalino. Contudo, o destino foi outro. Laribor, junto ao Colegiado de Magos, decide desterrar seu aluno a uma ilha deserta e distante, sem árvores grandes com que pudesse fazer qualquer tipo de embarcação para fugir e cercada por grandes monstros marítimos, de modo que Laresh, aquele que hoje conhecemos como Exu Tranca Ruas, foi considerado um “caído” por ter desobedecido as leis de seu templo, leis humanas em detrimento de algo mais humano ainda, do maior dos sentimentos humanos, o Amor.
Quanta ironia, não?!
Laresh tentou convencer Laribor de que não havia justiça alguma naquela atitude precipitada, usou de sua razão argumentativa para mostrar que esse tipo de injustiça é que talvez estivesse levando os reinos e templos à perdição, pois na tentativa de muitos barrarem os sentidos humanos valendo-se de leis ‘ultrapassadas’, o instinto natural dos homens estava falando mais alto, dando vazão às suas emoções e angústias, ao que retrucou um Laribor conservador dizendo que não discutia as leis, apenas as protegia e as executava.
Olhando bem para esses acontecidos na vida do mistério Tranca Ruas, fica fácil entender como há muitos e muitos anos os erros só se repetem milênio após milênio, na criação e perpetuação de leis e costumes que só servem para separar os homens ou enfraquecer suas vontades e consciência em nome de deuses incompreendidos, de favorecimentos empresariais, institucionais e tantas outras coisas que só tem contribuído para impedir nossa evolução.
Laresh começa então a pensar em sua sobrevivência naquela ilha da morte, pois ali muitos ossos encontrou, o que o certificou de que ninguém saíra vivo daquele lugar. Começou a alimentar-se de raízes, caqui (logo é uma fruta antiquíssississima), caramujos que aprendeu a pegar entre as pedras à beira do mar e vez por outra algum peixe.
Sete meses após ter sido entregue à própria sorte, os mestres se aproximam novamente e deixam outra pessoa na ilha. Era Shel-çá, neta de Laribor, considerada caída por ter feito sexo antes da idade permitida pela lei do Templo Cristalino. A garota devia ter entre 13 e 14 anos quando apareceu grávida, para desgosto de seu vô, que em suas palavras “manchou toda uma vida de preservação das leis templárias”.
Se Laresh considerou injusto ter sido levado para aquela ilha, mais injusto ainda achou o que o próprio vô estava a fazer com a neta. Laresh disse que Laribor não podia falar daquela forma, como se Shel-çá representasse um status social para ser manchado ou coisa do tipo, argumentou ainda que a moça não tinha idade suficiente para entender das leis ditas divinas, mas criadas por homens, muito menos tinha consciência do próprio corpo e seus desejos ou sentimentos. Laribor se despediu e embarcou na nave de volta para o Templo Cristalino.
É isso mesmo! Em pelo menos duas passagens do livro a palavra ‘nave’ é citada, o que me faz pensar que há milênios e milênios, eras e eras atrás talvez tenha existido, de fato, neste planeta, tecnologia muito mais avançada que as atuais. O motivo de termos perdido todo esse conhecimento alguém arrisca?
Daí a alguns meses, Shel-çá dá à luz um casal de gêmeos. Laresh passa a cuidar da moça e das crianças. Ela havia confessado que sentia muito desejo por um rapaz do templo, não o amava, mas o tesão existia, contou que os dois passaram a se encontrar, ela o havia seduzido, segundo confessara, tudo estava indo como imaginara, porém, a gravidez a surpreendeu. Mesmo tendo sido descoberta com o crescimento da barriga, a moça não entregou o rapaz, tendo apenas ela sido desterrada.
Laresh contava agora 36 anos de idade, sua vida era aquela ilha, as plantações que começara a cultivar, tudo que alimentava as quatro bocas. Havia adotado as crianças, via em Shel-çá uma criança maior, porém a convivência tratou de mudar tudo aquilo. A mãe começou a sentir atração pelo homem, que até então nunca havia casado, nunca havia amado e nada conhecia desses termos, via o sexo apenas como algo para a procriação. Quando Shel-çá começou a se insinuar para Laresh, o homem a repeliu e se criou um clima estranho naquela convivência até então pacífica. Passaram dias sem se falar direito, mal cumprimentavam-se. Foi então que Shel-çá puxou assunto, disse que o amava e amava a dedicação dele para com seus filhos e que gostaria de ouvir de Laresh a mesma declaração, ainda que de mentira. Laresh cede ao seu lado paterno e marital e a assume como sua esposa. Em sete anos mais 6 filhos teriam.
Entendo essa parte da biografia como o que ocorreu no filme A Lagoa Azul, onde o amor surge de modo mais natural e espontâneo possível, seja pela necessidade física, biológica, afetiva ou o que for.
A partir daí tem início uma guerra imensa envolvendo todos os templos, todos disputando poder e um elixir recém-criado por alguns mestres templários caídos. O tal elixir rejuvenescia quem dele bebesse. Fora criado por alguém que tinha pretensão de manter a vida eterna na terra, mistério não permitido pela criação divina até hoje. Foi desenvolvido possivelmente por algum mago, que, consciente de seus erros em vida, temia o que lhe poderia acontecer após o desencarne, portanto acreditava que viveria eternamente tomando daquela fórmula sempre que envelhecesse.
Laribor, antigo mestre de Laresh, havia ‘caído’. Durante suas reflexões se deu conta de todas as injustiças que cometera durante a vida de guardião das leis e que pelas leis que julgava ancestrais e divinas cometera muitas desgraças, pensou em todas as pessoas que desterrou na ilha onde deixara a neta e Tranca Ruas, logo também temia morrer, pois teria de acertar contas e não seria perdoado tão fácil.
Laresh e Shel-çá sofrem perseguições, inclusive, do próprio Laribor, pois como tinham ligações ancestrais com orixás, com mistérios da natureza, seus conhecimentos e domínios poderiam ajudar os mestres magos caídos a ter poder cada vez maiores uns sobre os outros. Todavia, como dito no início deste texto, muitos outros mehis e mehas haviam encarnados na mesma época em que Laresh e eles tinham um plano para proteger aquela família ilhada. Não cabe aqui descrever os acontecimentos da guerra, pois preciso abordar outras coisas também. Mas que fique claro que Laribor é vencido, quase toda a população que sobreviveu aos abalos causados durante os conflitos entre os reinos passa a viver sob as instruções, cuidados e ensinamentos de Laresh.
Àquela época alguns Mehis e Mehas conseguiam apagar a memória humana e o cavaleiro mais fiel que Laresh teve durante os confrontos, chamado Iafershi, apagaria todas as lembranças dolorosas dos sobreviventes, tais como mortes de familiares, torturas, mutilações e estupros, por exemplo, para que vivessem os fins de seus dias sem angústias e tristezas, contudo Tranca Ruas pede ao amigo que não apague, o convence que todos ali precisariam superar e evoluir a partir das dores e perdas que sofreram. O próprio Laresh assistiu a esposa e suas filhas serem estupradas, suas duas filhas mais novas quase foram mortas em um ritual que envolvia sangue durante a guerra, viu seu antigo mestre cair nos erros que tanto condenou, entre outros acontecimentos que melhor podem ser entendidos com a leitura total do livro.
Tranca Ruas conta que a dor que sentiu ao presenciar o estupro das mulheres de sua família lhe cortou profundamente a alma e que a sente até hoje, mesmo no plano astral, diz ainda que divide sua vida entre antes e depois desse fato. Com isso, seu lado mais humano fala logo nas primeiras páginas do livro: “odeio os que odeiam, sinto asco dos blasfemos, nojo dos invejosos, repulsa pelos falsos, ira pelos soberbos e pena dos libidinosos. Sinto pena dos libidinosos porque haverão de purgar, através dos séculos e de seus sexos, suas libidos descontroladas ou emocionalizadas além dos limites humanos”, conta.
Blasfemos, odiosos, invejosos, falsos e todos os demais citados pelo exu, ele os conheceu em vida e se tem motivos para não lhes tolerar é por conhecer como cada um age e usa de seus descontroles em prol de conquistas pessoais, mesmo que prejudiquem seus semelhantes. Assim, fica evidente o quanto o Exu Tranca Ruas é um servo da lei e da justiça e trabalha para que se cumpram, seja neste mundo, seja em outro.
Selmi Laresh faleceu já centenário, na região onde hoje é conhecida como Polinésia. Sua passagem foi tranquila e consciente. Ele foi alertado de sua morte pelo próprio Ogum Sete Lanças e assim preparou a família. Na mesma noite deitou-se e seu corpo dormiu eternamente. Mesmo após a morte de Laribor, novos reinos entraram em guerra, das quais o povo liderado por Laresh não participou, se muito, ofertando alimentos para alguns reinos. O mundo sofreu dois novos e intensos abalos sísmicos, devastando cerca de 90% da população, findando reinos e engolindo continentes desconhecidos. Os sobreviventes deram continuação ao legado e aprendizados deixados por Laresh. Ressalto que, embora nova, algumas práticas na Umbanda são bastante antigas como o próprio culto à natureza, a mediunidade, incorporação inconsciente (cada dia mais rara) etc.
Neste ponto saio da biografia para abordar outros temas relacionados a figura do Exu Tranca Ruas das Almas. Diferente de tantas histórias que conheço a respeito de outros Exus, o senhor Trancas Ruas nunca ‘caiu’ e, se ele atua no lado ‘negativo’, ajudando espíritos caídos em suas jornadas evolutivas, é mais por afinidade energética.
Uma das coisas que me motivou a escrever esse texto foi notar como há muitas estórias sobre a vida deste exu, afirmam que ele foi padre e dentre os Exus que conheço e sei que foram padres, lembro do Exu Caveira, cujo resumo também pretendo publicar em breve aqui. Talvez seja mais correto dizer que o senhor Tranca Ruas foi alguém mais próximo do que hoje entendemos como agricultor ou horticultor, alguém que via no culto à Natureza algo supremo, divino e de manifestação da generosidade da terra (que tudo nos dá) para conosco, como devemos ser para com nossos irmãos.
Contam ainda que Tranca Ruas foi médico, viveu em um castelo, foi apaixonado por dona Maria Padilha, (Shel-çá, com quem Selmi Laresh conviveu toda a vida, atua na Umbanda hoje como uma Cabocla ligada diretamente a Iemanjá) tiveram como filha a Pomba Gira Menina, que por conta desta paixão cometeu grandes loucuras, usou de seus conhecimentos medicinais para matar gente e assim, essa pessoa até pode ter existido, ter atentado contra a vida dessa forma e agora trabalhe sua evolução espiritual ajudando os humanos dentro da falange de seu Tranca Ruas. Uma falange compreende uma legião de, nesse caso, ‘mistérios’, guias espirituais. Então cada entidade ali teve sua própria história terrena, porém, a história do guardião que rege o trono, que rege a falange inteira é a psicografada por Rubens Saraceni, devido todos os detalhes e conhecimentos transmitidos.
É costume elevar nossos pensamentos a Exu, buscar meios de nos conectarmos com esta vibração na segunda-feira, por isso também este texto está sendo publicado numa segunda-feira. Tranca Ruas das Almas é um dos exus que sustentam a Umbanda no Brasil e por ser bastante atuante já é considerado parte de nossa cultura, muitas vezes tido (erroneamente) como demônio, como uma entidade que faz o mal. Ressalto, obviamente, que todo mal feito nesta terra parte de um pedido, de um pensamento, de uma atitude humana, do homem, ou seja, mesmo que alguém peça algo inescrupuloso a algum Exu, ao senhor Tranca Ruas, podem ter certeza que caso o pedido seja atendido não é realizado por nenhum exu, há outros tipos de espíritos no além-mundo e que se passam muitas vezes por Exu, como aqui na Terra há muitos homens que se passam como ‘profetas’, ‘escolhidos’, ‘filhos do Cristo’ e por aí vai.
O Exu de Lei trabalha exatamente para cortar os efeitos e as ações dessas pessoas que praticam o mal sob o véu de qualquer religião. Essa é a verdade que precisa ser compreendida e transmitida. Assim sendo, a atuação do senhor Tranca Ruas visando a concretização da Umbanda no Brasil é tão forte que o pai Benedito de Aruanda comenta no início do livro que este exu é um dos mistérios que mais tem se revelado em nosso plano material. “Centro de Umbanda onde não baixam Tranca Ruas, de Umbanda não é, pois, onde eles baixam, lá a Lei vem cumprir-se da forma mais humana possível”, diz.
Para confirmar quanto Tranca Ruas já foi incorporado à cultura brasileira, não só ele como Exu Capa Preta, outros, descobri em minhas pesquisas que um vereador do município de Porto Alegre, no extremo sul do país, apresentou um projeto de lei através do qual visa incluir no calendário oficial da cidade uma data em homenagem ao senhor Tranca Ruas. Festas lhes são rendidas em homenagens nos quatro cantos do Brasil e em Campinas há um santuário onde umbandistas podem visitar e deixar suas preces.
Projeto de Lei citado — Download
Festa do Tranca Rua das Almas celebra Exu, figura respeitada na Umbanda
Inaugurado Santuário do Tranca Ruas das Almas
Artistas como Martinho da Vila, Jeza da Pedra e o grupo Terra Cabula regravaram pontos cantados para este Exu. Os cariocas da Gangrena Gasosa, única banda de ‘Saravá Metal’ do mundo, tem entre seus personagens a figura de Seu Tranca Ruas das Almas, representado pelo baixista da banda. Outras entidades da Umbanda como Pomba Gira Maria Mulambo, Exu Caveira, Zé Pelintra e Exu Mirim também aparecem como arquétipos adotados pelo grupo.
Se há algo em todo esse texto que você não compreende, peço que continue acompanhando as futuras publicações, a Umbanda é universo enorme, Exu por si só é um universo enorme de conhecimento e me seria impossível elucidar muitas coisas em um só texto.
A seguir alguns prints que considero interessantes extraídos do livro.
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